Katy Perry faz história no Rock in Rio ao se apresentar com Cyndi Lauper, mas mostra que seu sucesso ainda está ligado ao passado
- Miguel Trevisol
- 21 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de out. de 2024
No lançamento do álbum ‘143’, Katy Perry emociona fãs com hits nostálgicos e mostra que nova fase não supera o auge de sua carreira
No Rock in Rio desta sexta-feira (20), um mistério pairava no ar sobre a principal atração do dia: qual versão de Katy Perry subiria ao Palco Mundo? A cantora do recém-lançado álbum “143” ou a popstar que dominou a década passada com inúmeros hits de sucesso? A dúvida surgiu porque, há 15 anos, ela vivia o auge de sua carreira, mas, atualmente, enfrenta uma crise em termos artísticos, de sucesso e de reputação.
Katy Perry canta 'Time After Time' com Cyndi Lauper
Para a alegria do público presente no Rock in Rio, Katy Perry soube equilibrar bem suas novas apostas e focar na nostalgia, proporcionando um show memorável. O ponto alto foi o momento histórico em que dividiu o palco com Cyndi Lauper. A apresentação foi emocionante e encantadora do começo ao fim.
O show começou de forma bem-humorada, apesar de Katy Perry ter enfrentado problemas com o som baixo (bem baixo) no início, o que foi rapidamente corrigido. O público não se empolgou muito com as músicas recém-lançadas, com exceção de “Lifetimes”. A verdadeira euforia veio com os hits clássicos.
A apresentação foi aberta com “Woman’s World”, principal aposta do álbum “143”. Nos telões, um vídeo exibiu uma montagem de imagens, incluindo a gestação de um feto, robôs futuristas, cientistas em laboratório, símbolos feministas e a frase “I love you” (“amo você”, em português).
Katy surgiu suspensa no ar, pendurada por cordas, lembrando uma borboleta — inseto que simboliza sua nova era e que estava representado no centro do palco com uma grande réplica inflável cor-de-rosa.
Ao contrário do videoclipe de “Woman’s World” — que sexualiza Rosie the Riveter, ícone feminista do famoso cartaz “We Can Do It!”, de J. Howard Miller —, a performance da faixa no palco não foi erotizada. No máximo, apresentou a típica sensualidade de Katy Perry. Sexualizar um movimento que luta contra a objetificação feminina é, no mínimo, controverso.
Além disso, a própria existência de “Woman’s World” é ambígua. A letra oferece uma visão superficial sobre o feminismo, e a produção foi realizada por Dr. Luke, acusado em 2014 de cometer "abusos sexuais, físicos, verbais e emocionais" contra a cantora Kesha, acusações que ele sempre negou. (Em 2023, os dois chegaram a um acordo, cujos termos não foram divulgados.) Lançada há mais de dois meses, a música tem gerado críticas e vem impactando negativamente a nova fase de Katy Perry.
Deixando a polêmica de lado, Katy seguiu com “California Gurls”, seu hit que remete ao algodão-doce e que trouxe à tona um dos figurinos mais icônicos de sua carreira: os cupcakes sobre os seios.
No show, Katy iniciou com um maiô futurista — reluzente na parte dos seios e quadris, e nude no restante. Em seguida, trocou para um corset dourado em formato de borboleta. Por último, vestiu um body cintilante com um tecido esverdeado atravessado, lembrando uma cobra.
Após finalmente animar o público com “California Gurls” — já que poucos conheciam “Woman’s World” —, Katy continuou com o pop juvenil de “Teenage Dream” e a energia festiva de “Part of Me”.
A artista seguiu com “Dark Horse” (do álbum “Prism”) e “E.T.” (de “Teenage Dream”), combinando-as com um remix de “Gimme Gimme”, faixa de seu novo disco que lembra seus antigos sucessos — o que reforça que, em alguns momentos de “143”, Katy soa como uma cópia menos inspirada de si mesma.
Mostrando carisma, a cantora chamou um fã ao palco. “Eu acredito que nada é por acaso. Este show esgotou em uma hora e 43 minutos [números que nomeiam o novo disco]. E ele faz aniversário no mesmo dia que eu”, disse ela, abraçando o jovem. Juntos, acompanhados pelo balé da americana, os dois dançaram ao som de “Swish Swish”.
Depois, a energia do show diminuiu um pouco com a execução de “Gorgeous”, outra faixa do novo álbum. O público demonstrou a mesma reação em músicas como “I’m His, He’s Mine”, “Tucked” e “Teary Eyes”.
O momento mais emblemático da apresentação — um daqueles que entram para a história do festival — foi quando Katy convidou Cyndi Lauper, que havia se apresentado horas antes no mesmo palco. Juntas, elas cantaram “Time After Time”, sucesso do primeiro álbum de Cyndi, “She’s So Unusual” (1983).
Duas popstars icônicas, de gerações diferentes, celebrando o new wave dos anos 1980 e o pop adolescente dos anos 2010. Um momento emocionante e marcante, que encantou o público.
“Eu quero ser exatamente como você. Você é tão incrível, tão conectada, tão cheia de vida e energia. Eu te vi deitando no chão, absorvendo tudo”, disse Katy a Cyndi.
“Você teve uma carreira tão longa, linda e bem-sucedida, e há tantos sentimentos que acompanham isso. Sempre há alguém te admirando, e você é sempre a estrela guia de todos. Mas o que eles não percebem é que eles também são nossas estrelas guias.” Nesse momento, a guitarrista de Cyndi Lauper também se juntou ao palco, ao lado da guitarrista de Katy Perry.
“Eu cantei essa música alguns anos atrás no Rock in Rio e queria reproduzir”, disse Katy, antes de entoar o hit de coração partido “The One That Got Away”. Segurando uma bandeira do Brasil, a cantora fez um momento intimista, cantando sentada e visivelmente emocionada, enquanto os fãs acompanhavam em coro.
Em um momento descontraído, ela mencionou: “Minha filha, Daisy, está assistindo. Olá, mas agora vá dormir”, arrancando risadas do público.
O show terminou em clima de euforia, com Katy cantando a explosiva “Firework”, após um setlist repleto de hits clássicos como “Hot n Cold”, “Last Friday Night” e “I Kissed a Girl”.
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